No dia 23 de setembro, a Fundação SOS Mata Atlântica realizou uma mesa-redonda na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, com o tema “Rio Tietê: Desafios para a gestão da água em São Paulo”, em que foram apresentados resultados atualizados sobre os níveis de poluição do rio Tietê. O trabalho de monitoramento, que é realizado mensalmente por voluntários da ONG, mostrou que a mancha de poluição do Rio Tietê subiu 117,8% referente ao ano passado. Hoje, são 154,7 quilômetros de trecho de rio “morto”, contra 71 quilômetros do ano anterior.
A mesa-redonda teve mediação de Alberto Gaspar, repórter da TV Globo, e participação dos seguintes especialistas: Andréa Ferreira, gerente de planejamento e controle da Sabesp; Domenico Tremaroli, gerente da Agência Ambiental de Jundiaí; Pedro Roberto Jacobi, professor do programa de pós-graduação em Ciência Ambiental (PROCAM/USP); e Luiz de Campo Jr., cocriador da iniciativa Rios e Ruas.
A discussão começou com a questão do retrocesso na despoluição do rio observada pelo levantamento da ONG, com ênfase na falta de governança e transparência dos governos em questões hídricas, cujas discussões raramente envolvem a população como um todo. Segundo Jacobi, a sociedade, em geral, não sabe da importância do saneamento básico e o poder público só alertou a população no auge da crise hídrica. Para Luiz de Campos Jr, a população da cidade de São Paulo não quer conviver com o Tietê poluído, mas muitas vezes faltam informações.
Além da escassez hídrica, de acordo com Andréa Ferreira, um dos fatores que contribuiu para a piora na qualidade das águas do Tietê é a falta de licitações para início de novas obras de despoluição. Conforme ela, houve um “refreamento” do trabalho, porém nenhuma obra foi paralisada em 2014. Apesar de admitir o atraso, ela não respondeu sobre o novo prazo para a universalização do saneamento, prevista para 2018 e depois postergada para 2020.
Para Malu Ribeiro, coordenadora do Projeto Observando o Tietê da Fundação SOS Mata Atlântica, a negligência em relação ao saneamento básico ainda é um dos principais desafios para se obter avanços. Ela cita o exemplo de Guarulhos (SP), que tem apenas 20% do esgoto tratado: “Para uma cidade de mais de um milhão de habitantes isso é muito pouco, não há vazão de rio que chegue para diluir este volume”, afirmou. O município de Guarulhos, assim como outras cidades vizinhas a São Paulo, têm serviços autônomos de água e esgoto.
Segundo Domenico Tremaroli, enquanto não houver atos de grande porte do governo, não serão vistos avanços visíveis em relação à despoluição de rios.
Outro assunto tratado na mesa-redonda foi com relação a acabar com enquadramento de classe 4 para os rios, que só servem para a diluição de esgotos e que cuja as águas não podem ser utilizadas para nenhum uso. O rio Tietê é enquadrado na classe 4 do município de Guarulhos a Pirapora do Bom Jesus. A partir daí o rio é classe 2, porém não atinge esse padrão de enquadramento devido à poluição que recebe na região metropolitana de São Paulo. A Sabesp informou que está avaliando a questão do enquadramento dos rios e a proposta de extinção da classe 4.
A coordenadora da Fundação, Malu Ribeiro, garantiu que a SOS Mata Atlântica continuará perseguindo o ideal de eliminar os rios de classe 4 no Estado de São Paulo. Para isso, firmou o compromisso da SOS Mata Atlântica levar ao governador do Estado, Geraldo Alckmin, esse pedido e de repactuar uma forte ação para despoluir o Tietê.
O governo do Paraná já instruiu seus comitês de bacia a extinguirem a classe 4.
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