A cada ano, cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados no mundo inteiro, isso representa mais de 30% de toda a produção global de comida para consumo humano. Esse volume seria mais do que suficiente para alimentar as 821 milhões de pessoas que ainda passam fome no mundo, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
No Brasil não é muito diferente. Em 2013, o país desperdiçou mais de 26 milhões de toneladas de alimentos, de acordo com levantamento recente realizado pela ONU. Dados divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) aponta alimentos como arroz, carne vermelha, feijão e frango como os itens mais jogados fora nas casas dos brasileiros. Para alertar a população sobre o problema, o MMA promove, anualmente, a Semana Nacional de Conscientização da Perda e Desperdício de Alimentos. A iniciativa tem como objetivo aumentar a compreensão e fortalecer a ação de todos os setores da sociedade contra o desperdício, além de estimular comerciantes a adotarem práticas que evitem perdas de produtos que podem ser consumidos.
O tema é um dos mais importantes dentro das pautas que tratam de questões humanitárias, tanto que foi incorporado à Agenda 2030 pelo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 12, em que um dos itens sinaliza a intenção de reduzir pela metade, até 2030, o desperdício de alimentos per capita mundial, nos níveis de varejo e do consumidor, e reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento, incluindo as perdas pós-colheita. Saiba mais sobre o ODS 12 aqui.
Este ano, a ação promovida pelo MMA ocorre entre os dias 5 e 10 de novembro, em Brasília (DF), e conta com a parceria de organizações como WWF-Brasil, ONU Meio Ambiente, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e também do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Como parte da estratégia de comunicação, para dar mais destaque ao tema nas redes sociais, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom/PR) em parceria com o MMA produziu conteúdos sobre a temática com o intuito de divulgar a iniciativa nos canais digitais e aumentar o engajamento dos brasileiros e de entidades envolvidas com a causa.
Programação: seminário, exposição e evento culinário
No primeiro dia do evento, foi apresentada a Campanha de Combate a Perdas de Desperdício de Alimentos, na sede do MMA. Estiveram presentes os ministros Edson Duarte (MMA) e Alberto Beltrame (MDS), e representantes da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU) e da Embrapa.
No dia 7, a Câmara dos Deputados recebeu uma audiência pública para discutir os projetos de lei sobre perdas e desperdícios de alimentos, em tramitação no Congresso Nacional. Já no dia 9, está programado um seminário na sede do MMA, onde serão apresentadas 15 iniciativas de boas práticas para o combate a perdas e desperdícios de alimentos. Também haverá uma exposição sobre esse tema no local.
No dia 10, o evento será na Ceasa-DF, com foco em gastronomia. Os chefs de cozinha Fernando Souza e Fábio Marques, que criaram o projeto Desafio da Xêpa – Do Lixo ao Luxo, vão preparar pratos com alimentos que seriam descartados. A Emater também participa com a elaboração de dois pratos à base de abóbora, mostrando o aproveitamento integral do alimento. Além disso, a equipe da Fundição Progresso, do Rio de Janeiro, fará comidas à base de Plantas Comestíveis Não Convencionais, as PANCs. Também haverá oficina de hortas urbanas.
Alimentação e consumo consciente
O problema do desperdício começa ainda no campo. De acordo com a Embrapa, 10% das perdas acontecem na agricultura, 50% no manuseio e transporte, 30% em centrais de abastecimento e 10% nos supermercados e com os consumidores. Cada um de nós pode contribuir no combate a esse problema com pequenas mudanças em suas práticas cotidianas. Veja, a seguir, dicas importantes elaboradas pelo Instituto Akatu.
– Planeje o cardápio semanal, liste os ingredientes necessários para produzir esses pratos e compre a quantidade necessária para o preparo. Não se esqueça de verificar o que você já tem em casa antes de preparar a lista.
– Dedique atenção especial aos alimentos perecíveis, que se estragam mais rápido, buscando comprar em quantidades menores e mais vezes por semana se possível.
– Não vá às compras de alimentos com fome, pois isso pode induzi-lo a comprar em excesso.
– Dê preferência a frutas, verduras e legumes da época. Assim, esses produtos não virão de tão longe e chegarão mais frescos, durando mais sem estragar. Além disso, os alimentos produzidos na época mais propícia para o seu crescimento exigem menor utilização de agroquímicos e insumos em sua produção do que os produtos fora de sua época ideal.
– Dê preferência aos alimentos produzidos em locais próximos ao que você vive. Essas escolhas diminuem o tempo de transporte e o alimento dura mais tempo. Além disso, você contribui para a economia e governança local.
– Ao estocar os produtos no armário ou na geladeira, coloque na frente ou em cima os mais antigos e atrás ou em baixo os mais recentes.
– Se for congelar os alimentos, separe em pequenas porções, equivalentes ao consumo de uma refeição.
– Atente-se às recomendações de armazenamento nas embalagens – boa parte das perdas de alimentos em residências é derivada da estocagem inadequada dos produtos: alguns devem ir à geladeira, outros precisam ficar em ambientes secos e sem incidência solar etc.
– Utilize os alimentos integralmente: ou seja, inclua sementes, talos, folhas e cascas nas receitas. Muitas vezes as partes dos alimentos que jogamos fora são extremamente nutritivas e ricas em fibras. Conheça algumas receitas interessantes para aproveitar integralmente os alimentos aqui.
– Reaproveite alimentos que são sobras de uma refeição e que muitas vezes ficam “perdidos” na geladeira, que podem se transformar em bolinhos, tortas, sopas etc.
– Use os alimentos “feiozinhos” – frutas, legumes e verduras um pouco machucados ou com formato diferente do usual são tão nutritivos quanto os que não estão machucados ou tem aparência usual. Coloque no prato só o que você vai comer.
– Coloque os restos de alimentos em composteiras para produzir adubo para seu jardim ou horta caseira, para o jardim do prédio ou uma praça comunitária. Assim, as partes dos produtos que não puderam ser consumidas como alimento retornam ao solo como nutrientes! (cuidado, pois nem todo o tipo de resto de alimentos pode ser colocado na composteira, como é o caso das carnes).